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Instituto Federal Fluminense desenvolve oferta de cursos voltada para os trabalhadores
Qualificação
Conciliar estudo e trabalho é uma dificuldade real para muitos trabalhadores brasileiros que podem não reconhecer nas instituições de ensino regular um “lugar” possível para eles estarem. Mas se a educação é um direito universal e a escola deve ser um ambiente para todos, não deveria estar preparada e adequada a diferentes realidades?
Historicamente acredita-se que a educação regular afasta o trabalhador da escola ao não conseguir conciliar, por diversos motivos, ambas as atividades, contudo há um esforço institucional para planejar uma nova oferta de cursos compatível com a jornada dessas pessoas. Uma trajetória de formação que estimula a continuidade dos estudos e que prepara para uma atuação qualificada no mundo do trabalho, contribuindo para a elevação de sua escolaridade.
É a chamada oferta de Cursos Técnicos por itinerários formativos que passa a fazer parte da grade do Instituto Federal Fluminense (IFF), a partir de 2019. O objetivo é ampliar as oportunidades de acesso, trazendo o trabalhador para dentro da instituição de forma que ele possa estudar, trabalhar e se qualificar ao mesmo tempo.
Isto porque o itinerário formativo é construído a partir de uma trajetória de cursos que possibilita organizar os estudos por etapas de formação, além de ter cargas horárias semanais específicas: o estudante ingressa por meio de um Curso de Formação Inicial e Continuada (FIC), cuja exigência é estar estudando ou ter concluído o Ensino Fundamental, podendo chegar à conclusão de um curso técnico em um processo de qualificação e requalificação com organização de tempo e espaço diferenciados.
“Você abre a escola para o público que trabalha, que não pode estudar todos os dias”, ressalta Carlos Artur Arêas, pró-reitor de Ensino do IFF. “É um movimento da instituição que deve trabalhar para todos, para que todos tenham êxito”, complementa.
Na prática, o itinerário formativo pode ser entendido como um conjunto de cursos que se somam, ainda que sejam independentes. Ele é dividido em cursos de qualificação profissional, com certificação em cada um, e não há obrigatoriedade de serem cursados de forma contínua, podendo o estudante parar e retornar após um período, por exemplo, de acordo com sua necessidade e possibilidade. O último ingresso se dá na etapa do curso técnico, havendo o aproveitamento dos estudos anteriores, e com a certificação do técnico.
"Os cursos de qualificação profissional, diretamente associados à atuação do trabalhador, tendem a ser um atrativo ao retorno à escola e à própria elevação de escolaridade".
A construção desta oferta se deu a partir de um exercício de enxergar dentro do currículo do tradicional curso técnico qualificações profissionais que constroem um caminho possível de ser adequado à rotina de um trabalhador.
A novidade, no âmbito do IFF, é fruto do trabalho realizado pela Pró-reitoria de Ensino junto às representações da comunidade acadêmica com o objetivo de definir diretrizes para ampliar as possibilidades educacionais desses jovens e trabalhadores que por diversas questões demandam cursos adaptados às suas necessidades e rotinas.
Como encaminhamento, foi instituído um Grupo de Trabalho, com participação de todos os campi, pela Portaria N.º 1625/2017 que, por um ano, se debruçou sobre as definições e organização de itinerários formativos, resultando no documento que aponta as Diretrizes Institucionais para a Organização Curricular desta modalidade, a Resolução N.º 36/2018.
Carlos Artur explica que as diretrizes para oferta de cursos técnicos por itinerários formativos compõem um conjunto de documentos orientadores voltados para a inclusão e a permanência escolar. Tais documentos elegem a diversificação curricular como elemento de opção política e organização acadêmica, e funcionam como meio de comunicar, organizar e contribuir para os processos criativos associados aos cursos e seus públicos.
“No caso dos cursos técnicos organizados por itinerários formativos, há diferenças em diversas dimensões. Na organização escolar, há diferenças na engenharia de currículos (que permitem cargas horárias semanais e diárias menores, compatíveis com as jornadas dos trabalhadores); nos requisitos de escolaridade (pois o acesso ao primeiro curso pode ser feito por estudantes ou concluintes do Ensino Fundamental); e nas próprias estruturas de ensino e aprendizagem", explica. "Fora da dimensão institucional, os cursos de qualificação profissional, diretamente associados à atuação do trabalhador, tendem a ser um atrativo ao retorno à escola e à própria elevação de escolaridade. Junto a isso, a sequência do itinerário combina a proposta de verticalização institucional às trajetórias individuais dos próprios trabalhadores, já que a ideia é estimular e propiciar a formação técnica e a conclusão da educação básica para todos”, acrescenta.
Diversos campi do IFF já iniciaram ações e cursos que se articulam aos itinerários formativos propostos na diretriz, como é o caso de São João da Barra, Campos Guarus, Cabo Frio, Santo Antônio de Pádua, Itaperuna e Quissamã. O resultado é o primeiro curso técnico do IFF a ser ofertado desta forma, aprovado em fevereiro deste ano pelo Conselho Superior, órgão máximo do Instituto, para a unidade de São João da Barra.
O Técnico Subsequente em Eletrotécnica por itinerário formativo será da seguinte maneira: um módulo básico, que funciona como pré-requisito para os demais, que é o Curso de Formação Inicial de Eletricista Instalador Predial de Baixa Tensão; em seguida, os cursos de Formação Continuada de Eletricista Industrial e de Montador de Painéis Elétricos. A última etapa corresponde à qualificação técnica, em que o aluno, após ter concluído todos os Cursos de Formação Inicial e Continuada, estará apto a seguir para o Curso Técnico Subsequente em Eletrotécnica para concluir sua formação com o aproveitamento dos estudos anteriores. Cada etapa conta com 300h.
Em São João da Barra, os cursos que compõem o itinerário formativo vêm sendo ofertados desde 2017 e, com a aprovação, a partir do segundo semestre de 2019, este ciclo será fechado com a oferta da última etapa, o Técnico em Eletrotécnica, com duração de seis meses. Serão 30 vagas e as aulas ocorrerão três vezes na semana, no turno da noite. O público-alvo são alunos concluintes do Ensino Médio, maiores de 18 anos e que tenham concluído os FIC Eletricista Instalador Predial de Baixa Tensão, Eletricista Industrial e Montador de Painéis Elétricos.
A diretora de Ensino do campus, Maria Lúcia Ravela destaca que a necessidade de criar alternativas formativas para trabalhadores foi uma das motivações para a elaboração do curso que vem sendo pensado há dois anos. “A Educação Profissional é espaço privilegiado para a construção de Projetos Pedagógicos de cursos que priorizem um ensino flexibilizado, contextualizado”, diz, “o curso é fruto do compromisso do Instituto com a classe trabalhadora da região, e de oportunizar meios de sua entrada, permanência e êxito, qualificando e elevando a escolaridade do cidadão sanjoanense para que possa atuar de maneira ativa e crítica no desenvolvimento produtivo e econômico de sua região”, acrescenta.