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Trabalhos sobre ensino antirracista, jogos e quadrinhos enriquecem a VII Semana das Licenciaturas

Evento

Pesquisadoras apresentaram também resultados com a disseminação da literatura no campus Itaperuna e o desenvolvimento da sustentabilidade no campus Bom Jesus do Itabapoana.
por Vitor Carletti / Comunicação Social do Campus Campos Centro publicado 26/10/2023 15h52, última modificação 26/10/2023 15h52
Show image carousel Pedro Bárbara, docente da rede de ensino municipal do Rio de Janeiro, apresenta seu projeto que propõe um ensino antirracista.Fotos: Vitor Carletti

Pedro Bárbara, docente da rede de ensino municipal do Rio de Janeiro, apresenta seu projeto que propõe um ensino antirracista.Fotos: Vitor Carletti

   “O que falta para você me enxergar?” O questionamento de um aluno negro ao professor Pedro Bárbara indicou ao docente da rede pública municipal do Rio de Janeiro que a forma de ensinar e conviver na sala de aula deveria ser mais plural. E foi isso que ele buscou desde então. Os resultados do seu projeto, que faz uma proposta de ensino antirracista denominado “Pensamento-corpo: narrativas, subjetividades e modos de existência”, foram apresentados nesta quarta-feira, 25 de outubro, no auditório Miguel Ramalho do Instituto Federal Fluminense Campus Campos Centro, na VII Semana das Licenciaturas.

   Pedro acredita que o aluno não se identificava com o ensino tradicional das escolas em que, na maioria das vezes, a população negra é representada de forma pejorativa nos livros didáticos.

   “Quando ele me fala isso, ele está me questionando por que não conseguia ser tão bom aluno quanto os outros. Eu sempre tentava trazê-lo para perto de mim, não para dar esporro, mas dar uma centrada nele. Para falar assim: ‘deixa a gente ver as coisas boas suas´”, conta.

  Depois do episódio, conta Pedro, que utilizou a técnica do círculo da confiança feita pelo teatro, o aluno reviu suas atitudes e se tornou um amigo.

   O professor afirmou que o projeto tem 15 anos, e que os resultados serão utilizados na sua tese de doutorado. “Eu tento entender o que eu chamo de interrogação do currículo. É perguntar: o que está ensinando paras as crianças? Eu pergunto a esse currículo: o que falta? Porque isso não dá conta da diversidade e da pluralidade que a gente tem na sala de aula, sobretudo, no Rio de Janeiro, onde tem 1.550 escolas. Mais 40 mil professores. 800 mil alunos. Não é razoável caminhar com esse currículo. Quando eu interrogo o que falta, eu vou descobrindo como eu posso completar essas lacunas históricas. Eu fui experimentando colocando coisas a mais nas atividades para dialogar com aquilo que o currículo propunha. Percebi que houve uma mudança radical e a minha aula virou a mais querida da escola. Não tinha mais enfrentando, parei de trancar a porta, não havia mais furtos. Parei de gritar. Fiquei mais feliz”, explica.

   "Quando eu interrogo o que falta, eu vou descobrindo como eu posso completar essas lacunas históricas. Eu fui experimentando colocando coisas a mais nas atividades para dialogar com aquilo que o currículo propunha. Percebi que houve uma mudança radical e a minha aula virou a mais querida da escola. Não tinha mais enfrentamento, parei de trancar a porta, não havia mais furtos. Parei de gritar. Fiquei mais feliz”, explica. 
Pedro Bárbara, professor da rede municipal de ensino do Rio de Janeiro

Gamificação e "intervenção" literária— A riqueza de temas e projetos inovadores marcaram as apresentações orais da VII Semana das Licenciaturas.

 Quando o governo Michel Temer decretou intervenção federal na segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, em 2018, a professora de Literatura do campus Itaperuna Giselda Bandoli se perguntou: por que não fazer uma intervenção literária? A partir disso, o projeto “Literature-se: intervenção literária no IFF Campus Itaperuna”, apresentado no evento, produziu uma Academia de Letras do IFF Itaperuna e oficinas de produção textual.

  “Os alunos se aproximam mais da literatura e entendem que a literatura é uma forma de olhar e refletir sobre realidade. A gente não trabalha com qualquer texto. Temos sempre um propósito. A gente quer que ele problematize várias questões com o olhar da literatura. Esse é o grande avanço”, disse.

  Do mesmo campus do IFF, vieram os professores João Borges e Orlando Pereira com o projeto “Fábrica de Jogos: a criação de jogos digitais a partir de obras literárias”. A proposta da construção do game surgiu em 2020 e dialoga com várias áreas como Educação Física, Língua Portuguesa, Matemática, Administração, Química e Informática. O objetivo era interromper a reprovação e evasão dos alunos da escola.

 “Conversamos com os estudantes e identificamos que esse problema estava associado a uma dificuldade em leitura e interpretação de textos, expressão escrita e operações matemáticas básicas. O projeto ocorreu em vários anos. No primeiro ano, a gente focou em literatura de autoria feminina. No segundo, focamos numa literatura de autoria indígena e temos trabalhado em trazer obras não canônicas para pensar na reflexão e trazer mais visibilidade também a públicos que politicamente são poucos representados e não têm essa visibilidade ao longo da história”, disse.

QuadrinhosA irreverência tomou conta do auditório Miguel Ramalho na apresentação do professor da rede estadual de ensino Diego Marinho Luiz com o projeto “Martim, professor de Arte – Tiras de quadrinhos”. O docente se utilizou da própria carreira para ilustrar a vida de Martim, personagem que teve dificuldades de ser compreendido como profissional do ensino de Artes e não como um simples animador de festas da escola.

   Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas são a base do projeto da professora de Espanhol do IFF Bom Jesus do Itabapoana Anna Carolina Boldrini que apresentou o projeto “Los objetivos globales — una realidad em nuestra vida y em nuestra comunidad”que ensina aos estudantes a língua a partir de conceitos que ajudem a sociedade a ter práticas sustentáveis com impacto reduzido no meio ambiente.