Notícias
Realizada Aula Inaugural do Mestrado Profissional em Ensino e suas Tecnologias
Mestrado Profissional
A professora Liliana Passerino ministrou a Aula Inaugural (Foto: Diomarcelo Pessanha/Núcleo de Imagens do IFF)
Participaram da abertura dos trabalhos o reitor do IFF, Jefferson Manhães de Azevedo, o pró-reitor de Pesquisa, Extensão e Inovação, Vicente de Paulo Santos de Oliveira, a diretora de Pós-Graduação, Simone Vasconcelos, a diretora da Diretoria do Ensino das Licenciaturas do Campus Campos Centro, Marlúcia Cereja de Alencar, a coordenadora do curso, Silvia Cristina Freitas Batista e a coordenadora adjunta, Gilmara Teixeira Barcelos Peixoto.
Na mesma noite, houve o lançamento do livro Metodologias para o Ensino - Teorias e Exemplos de Sequências Didáticas. A obra é organizada pelas professoras pesquisadoras Valéria Marcelino e Priscila G. de Souza e Silva.
Antes de se dirigir ao Auditório Reginaldo Rangel para proferir a Aula Inaugural, a professora pesquisadora Liliana Passerino conversou com a Comunicação Social. Foram abordados assuntos alinhados com o tema central de sua participação e outras importantes questões contemporâneas para educadores, estudantes e pais.
Tecnologia e educação
- A questão da informática na educação remonta ao ano de 1982, o primeiro, Educom era dessa época. A gente agora só está com o "com"... Se instalou uma cultura nas escolas que está difícil de quebrar. No ensino superior (na formação) a gente propõe metodologia inovadora, sala de aula invertida ou projetos inovadores. Mas (ao se tornar docente) é como se entrassem em uma engrenagem de que não conseguem sair. Barreiras que se estabelecem - a nível do professor - dele gostar de experimentar, de não ter o controle absoluto, de explorar tecnologias que as vezes não funcionam ou dão trabalho. Mas tem barreiras a nível da instituição e barreiras que são a nível governamental.
Outras Barreiras
Por exemplo, a educação inovadora no sistema público. Tu não pode engessar o sistema público. A gente está vendo que sempre o Ministério da Educação busca construir uma base curricular comum, por mais que tudo isso tenha mérito, vamos supor que tenha, cria sentido você ter um conteúdo mínimo. Mas a educação não é só conteúdo. Então, a gente está fazendo exatamente o contrário, de voltar à educação bancária indo contra tudo o que Paulo Freire preconizou, teorizou e comprovou. Então, enquanto a gente vive aqui num retrospecto, em termos metodológicos e ideológicos, em relação ao que a educação é, a gente vê que lá fora o pessoal está renovando e fazendo Paulo Freire se tornar um dos investigadores mais importantes do mundo, aqui a gente deixa ele na escuridão.
Para trabalhar a tecnologia na sala de aula precisa ter uma flexibilização curricular que a gente não vive. Ficamos sempre na situação do que a gente deseja e a realidade que nos dá uns tapas na cara.
O estudante
- Alguns se viram. Mas o aluno do fundamental não tem como se virar. Ali o professor é essencial para seguir, para mediar. Tem de existir um filtro de qualidade, não pode ser qualquer coisa. Hoje qualquer um faz um programa para celular e pendura lá no Google Play, mesmo sem capacidade. A gente precisa, também, de certa forma, fazer uma crítica à própria profissão. Qualquer um dá palpite. Mas não é qualquer um que vai dar palpite sobre um procedimento médico. Se é classificado como saúde, vai tramitar no Conselho de Medicina. Por que a educação, que é tão importante quanto a saúde, vai ser tratada desse jeito? Então, essa é uma barreira a nível político que a gente enfrenta.
Escola conteudista
- A educação cometeu um erro estratégico e ideológico: na década de noventa a sustentação familiar passou a ser pai e mãe, pai e pai, mãe e mãe, trabalhando oito a dez horas por dia para sustentar (a família) economicamente. O que aconteceu? A sociedade jogou para a escola a criação dos filhos, a educação completa. A escola abraçou. Aí foi um erro. Ela devia ter dito não. Nós trabalhamos com o desenvolvimento da criança. Por que a escola ia dar conta disso? Ela não tem psicólogos suficientes. Tem escola que não tem um orientador psicológico.
Alunos não estão suportando a pressão. Mas que pressão é essa? Não é como quando estudávamos. O que faz essa diferença? É a estrutura para suportar esse tipo de embate: da frustração, da falta de perspectiva. Claro, há o problema do panorama nacional e internacional. O planeta está mal, o Brasil está mal. Isso dá uma sensação de 'não vou conseguir'. Mas também as pessoas não têm estrutura afetiva para suportar essa pressão. Estão acostumadas a ter tudo muito facilitado.
Então vamos entrar no problema de o suicídio ser uma alternativa. Por que não era alternativa para a nossa geração? Porque na nossa geração nós tínhamos cuidadores. Pai e mãe. Podia ser uma avó, uma tia. Eram cuidadores muito firmes. A gente tinha muito mais desafios na infância e quando chegou à fase adulta, não nos frustramos tanto. Hoje, os desafios da infância são mais suavizados. Tu cria uma situação de bolha e o que acontece é que no final essa criança não é um adulto capaz de lidar com seus conflitos afetivos.
Tecnologia
- Tem uma questão afetiva ali que é o isolamento que ela está provocando nas redes sociais. Ao contrário do que se preconizava nos anos 2000, ela aprofundou a questão entre o que a gente tinha em relações humanas, afetivas comuns. Hoje as pessoas estão nas redes: 'Sou feliz'! Tiram fotos e depois se suicidam. Por que? Porque na verdade as pessoas estão em uma vitrine. As redes sociais são em tese uma camada de falsidade. A pessoa está sozinha, ela não está com amigos, não tem a relação afetiva. Aí a tecnologia entra como um potencial negativo. Nem tudo é positivo.