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"O grande trunfo para mim dos institutos é uma unidade interna no discenso."
Entrevista/Gaudêncio Frigotto
Nessa segunda-feira, 06 de maio, o professor pesquisador e um dos mais profícuos estudiosos da educação no Brasil, Gaudêncio Frigotto, participou de uma mesa redonda realizada no campus e que também chegou aos campi Bom Jesus do Itabapoana e Santo Antonio de Pádua. Antes de ocupar seu lugar na mesa que teve a participação também dos professores pesquisadores Ricardo José de Azevedo Marinho, da Unigranrio, e o pedagogo Pedro Luiz de Araújo Costa, do Colégio Pedro II, Frigotto concedeu a seguinte entrevista para a Comunicação Social:
Há uma pergunta que muita gente está se fazendo: para onde vai a educação no Brasil?
Gaudêncio Frigotto - Acompanho esse tema nada mais, nada menos, há 50 anos. Eu não tenho lembrança, nem a minha geração, de que a educação estivesse em um ataque tão frontal, a educação pública, como hoje. Com as mudanças, ou contra reformas que tivemos, sobretudo a partir de 2016, e agora se aprofunda, a noção e a compreensão do que é educação básica se acabou. O que é a educação básica? Aquela que dá base. Portanto, tem de ter a base daquilo que é a vida dos seres humanos em sociedade, que envolve literatura, filosofia, sociologia, história.
Uma visão ampla e histórica.
Frigotto - Visão ampla envolve o conhecimento das ciências duras, a ciência que está por trás da matéria, a física, a biologia, a química e onde a matemática é importante. Isso que é a base. Cultura, esporte para a juventude, arte, isso forma uma base! Isso tudo está na lata do lixo! Por quê? Você primeiro encurrala o ensino médio nesses famosos itinerários. O jovem tem de se decidir por um caminhozinho: Ou é ciências da linguagem matemática, ou é ciências da natureza. E segundo: você reduz o currículo como aquilo que é obrigatório: a matemática, língua portuguesa e, num certo momento, o inglês. Você vai preparar uma geração de analfabetos sociais. O drama é que é para a escola pública. Se eu perguntar onde meus netos estão, no Andrews, o diretor dirá: nós vamos dar o currículo pleno e vamos aumentar a carga horária para agradar a reforma. São reformas que pegam 85% da população brasileira. Interditar o futuro, essa é a palavra. Quem não quer ver isso é porque está dopado por ideias da meritocracia, pela ideia de que os professores ideologizam, dopados pelo famoso Marxismo Cultural, que não sabem o que é; ideologia de gênero e o "escambal"!
E o que mais pode vir?
O sociólogo Luis Antonio Cunha coloca que estamos amordaçados por seis grandes elementos de conservadorismo que ataca a laicidade da escola. É voltar a querer dar religião nas escolas. A religião é uma coisa importante, mas qual religião? A da Umbanda, a dos índigenas, as protestantes? Religião é uma coisa da vida privada. Segundo: moral e cívica, querem voltar; terceiro: vigiar o professor — escola sem partido —; quarto: militarização das escolas; quinto: cuidar se o cara fala de gênero, ideologia de gênero; e sexto: escola domiciliar. É um retrocesso rotundo!
Nesse último caso, tem o problema de sermos um país em que nem todos têm acesso às tecnologias digitais.
E outra coisa: esses é que precisariam mais que todos de uma educação olho no olho, precisavam do afeto, de serem acolhidos, porque muitos não têm famílias estruturadas, muitos quem cuida são as avós. Estão na desgraça dos 27 milhões de trabalho precário, ou na hiperdesgraça: dos 13 milhões com desemprego absoluto. Então, nós precisamos acordar o Brasil hoje, antes que seja tarde! Acho que as instituições, não só de ensino, as jurídicas, culturais, científicas têm um papel importante nesse momento de dizer chega! Porque também tem por trás disso uma pedagogia do medo, de intimidação e isso é muito ruim. É preciso parar, estar junto, debater!
Voltando à questão das reformas, os institutos federais seriam menos penalizados ou não?
Depende muito da autonomia interna e da capacidade interna de resistência. O primeiro ato de resistência, eu estava lendo Helena Brum, uma jornalísta que conheço desde pequena e que está na Espanha agora, que o primeiro ato de resistência é criar comunidade, criar sentido. Os institutos têm possibilidades, se tiverem um trabalho coletivo. Eles estão em todo o Brasil e eles estão enraigados na sociedade. Têm uma credibilidade, independentemente de partido que esteja na prefeitura e etc. Tem a ver com a vida do cidadão.
Nós precisamos criar consenso no discenso, isso que é barato da democracia, e buscar expor o trabalho às forças da sociedade. Aos diretores de escola, que mandam alunos aqui, aos vereadores, à saúde pública, porque vocês têm um potencial extraordinário e lidam com a juventude. Lidam com todo o espectro: do ensino médio à pós-graduação. Mas, paradoxalmente, o grupo das reformas de 2016 tinha como foco liquidar com os institutos. Tanto que tentaram um decreto para mudar o caráter dos institutos. Não conseguiram! Taí como vocês têm força política na sociedade!