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Atriz de filme indicado ao Oscar 2020 diz que políticas de segurança autorizam racismo
Aquilombamento Teatro Negro
Lucia Talabi, Bárbara Santos, Mateus Gonçalves (de pé), Gabriel Horsth e Neusinha da Hora participaram da roda de conversa sobre teatro, empoderamento da população negra e racismo.
Um mulher forte, antipatriarcal e que não suporta a sociedade machista. Assim, a atriz Bárbara Santos definiu sua personagem no filme A Vida Invísivel, que foi indicado pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer como melhor filme estrangeiro ao Oscar 2020. Ela participou de uma roda de conversa sobre a contribuição dos negros e negras para as artes cênicas no auditório Cristina Bastos do Campus Campos Centro, do Instituto Federal Fluminense (IFF). O bate-papo fez parte da programação do 1º Aquilombamento Teatro Negro promovido pelo Curso de Licenciatura em Teatro.
Bárbara Santos disse que o preconceito contra negros e negras tem aumentado, mesmo com o aumento do acesso deles às universidades. “A gente tem um resultado de um tipo de política que estimulou a ter mais abertura de negros nas universidades, mas também audiovisual e teatro de negros e negras. E a gente tem um aumento do racismo neste momento. Toda política de segurança é de matar pobre e preto.”
Portal IFF - Conta um pouco sobre sua personagem no filme.
Bárbara Santos - Eu faço a Filó, a Filomena. A Vida Invisível é um filme do diretor Karim Aïnouz, que também é o diretor do Madame Satã, Praia do Futuro, um diretor muito premiado. E a Academia de Cinema indicou esse filme para representar o Brasil no Oscar 2020. Então a gente está feliz com uma campanha internacional para ver se o filme chega, porque são muitos filmes do mundo inteiro que concorrem a cinco vagas de Melhor Filme Estrangeiro. Então ainda tem todo um processo. Trata-se da história de duas irmãs que se separam na vida por causa do machismo. Então é um filme sobre a questão de gênero, sobre a invisibilidade das mulheres. E dessas duas irmãs que se separam, uma sai de casa e ela vai conhecer um outro Rio de Janeiro, do subúrbio, um Rio de Janeiro pobre. Aí ela conhece a minha personagem que é uma mulher muito forte, que tem todo um posicionamento antipatriarcal, antimachista, uma mulher muito guerreira na sua comunidade. E essa moça que vem de uma família de classe média, branca, filha de português entra em um outro contexto de cidade. Então, a separação das duas irmãs mostra a cidade partida, que tem dois lados, a cidade que não encontra a outra cidade. Elas passam todo o filme tentando se encontrar nessa cidade que não permite esse encontro.
Como avalia as temáticas do machismo, de gênero e da negritude sendo abordadas hoje no cinema?
Hoje, tudo contra o mundo da cultura. Muita censura o teatro...o audiovisual sofrendo muito com cortes. Neste momento, a gente vê filmes que vêm como fruto de um outro momento histórico, né. E filmes que estão fazendo muito sucesso, Bacurau, por exemplo, não só Vida Invisível, Bacurau é uma produção fantástica, sendo aplaudido no mundo inteiro. Nós, da Vida Invisível, ganhamos o Gran Prix do Un Certain Regard, que é o segundo maior prêmio em Cannes e Bacurau ganhou o prêmio do Júri. Então, é o reconhecimento muito grandioso. Você vê a contradição desse momento. Internamente a gente está no momento de contenção, que a cultura não está bem-vista. Externamente a nossa produção cultural ganha um reconhecimento enorme. Eu acho que esses filmes e esse momento ajudam a gente a ver essa contradição e a realidade. Esses filmes e esse momento ajudam a gente a ver que algo está errado. Esse filme está falando dessa masculinidade tóxica que agride a vida alheia, essa masculinidade que é violenta e que hoje a gente vê essa masculinidade no poder. Essa maneira de ver o mundo, que você vai ver no filme, você vai ver que essa a base, a semente do fascismo.
Mesmo com o aumento de negros nas universidades, o racismo ainda é muito presente. Por quê?
Voltando para esse tema da contradição. A gente tem um resultado de um tipo de política que estimulou a ter mais abertura de negros nas universidades, mas também audiovisual e teatro de negros e negras. E a gente tem um aumento do racismo neste momento. Toda política de segurança é de matar pobre e preto. No Estado do Rio de Janeiro, a gente está vendo um aumento do número de crianças assassinadas. Esse modelo, que é o da violência, é como se tivesse autorizando o racismo. Autoriza o machismo, o sexismo, o racismo. E estimula.