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Neabi realiza Abril Indígena online com mais de 500 participantes de diversas regiões do país

IFF Bom Jesus

Inicialmente foram oferecidas 300 vagas, mas grande procura levou à ampliação da oferta de atividades.
por Comunicação Social do Campus Bom Jesus do Itabapoana publicado 30/04/2020 20h16, última modificação 30/04/2020 21h28
Em salas de webconferência, participantes puderam interagir durante atividades.

Em salas de webconferência, participantes puderam interagir durante atividades.

A sexta edição do Abril Indígena do Instituto Federal Fluminense Campus Bom Jesus, realizada nessa quarta-feira, dia 29, ganhou novo formato para se adaptar à situação de distanciamento social provocado pela pandemia da Covid-19. Por meio de webconferências, palestras gravadas previamente e até transmissões ao vivo por redes sociais, o evento reuniu mais de 500 pessoas em um dia inteiro de atividades dedicadas a discussões sobre os povos originários do Brasil. As vagas se esgotaram em cerca de 10 horas de inscrição e todas as atividades foram realizadas com número extra de participantes.

Ao som de “Por todas as nossas relações”, de Ernani Fornari, o estudante Enzo Caitano Côgo, do projeto Sarau do IFF, iniciou a conferência de abertura do evento. Agradecendo a todos os responsáveis pela realização do Abril Indígena, o reitor do Instituto Federal Fluminense, Jefferson Manhães de Azevedo, elogiou a iniciativa, que considerou criativa e inovadora. Ele destacou a importância de discutir a cultura, a identidade, os desafios e a luta dos povos originários. “É hora de refletir e aprender a resistência, a tenacidade de uma cultura que vive e busca viver em harmonia entre si e com o ambiente. Esse talvez seja um dos maiores ensinamentos para esse momento de pandemia”, considerou. O diretor-geral do Campus Bom Jesus, Leandro Pereira, também citou o caráter de resistência do evento. “O Abril Indígena destaca a resistência indígena, as lutas por territórios, por educação, por saúde, principalmente nesse momento de pandemia. Que essas atividades sirvam para nos fazer repensar nossos sentimentos e pensamentos conflituosos a respeito dos povos originários”, desejou.

A coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do Campus Bom Jesus, professora Karina Neves, deu as boas-vindas aos participantes relembrando a atuação do Neabi desde sua criação, em 2013. “A grandeza desse evento está no seu potencial de promover reflexão sobre assuntos cada vez mais urgentes. Conhecer a riqueza e a beleza dos povos originários e sua relação com a natureza nos faz querer aprender mais sobre sua origem e a grandeza desses povos que têm muito a nos ensinar”, introduziu. Ela recebeu os participantes com a saudação indígena “Ererré”, que significa “Viva!”, desejando boas vibrações a todos.

Confira abaixo:

Atividades

A programação foi variada e contemplou desde oficinas sobre culinária indígena até discussões literárias e entrevista com representantes indígenas. O projeto Café com Letras, coordenado pela professora Ângela Poz, que também é pesquisadora da temática, buscou incentivar a leitura de mulheres indígenas, abordando a obra “Metade cara, metade máscara”, de Eliane Potiguara, referência na literatura indígena e na militância do movimento indígena brasileiro, além do seu envolvimento na luta pelos direitos humanos. A professora do IFF Itaperuna Gisela Bandoli participou pela primeira vez do evento e da atividade. Ela se diz encantada pelo realce da importância dada à leitura de obras de autores da literatura indígena, por conta da perspectiva adotada. “Um autor ou autora indígena, em seu lugar de fala, apresenta a sua cosmovisão ao falar de seu povo, o que é totalmente diferente de quando autores e autoras não indígenas falam do mesmo tema”, analisa.

Nesse sentido, o evento também contou com a participação de representantes indígenas, que compartilharam experiências e falaram sobre a cultura de suas comunidades. Shirley Djukurnã Krenak foi entrevistada por alunos e servidores do IFF Bom Jesus, por meio do projeto Jornal Estudantil. Entre outros assuntos, ela falou sobre o papel das mulheres da etnia Krenak, a relação com a natureza, rituais de cura, educação, além de citar episódios da luta histórica de seu povo, incluindo o impacto do rompimento da barragem de Mariana sobre a comunidade, que reside às margens do Rio Doce, em Minas Gerais. Encerrando a entrevista, ela incentivou a busca por informações sobre seu povo e deixou um conselho para os participantes: “tem muita história, muita coisa boa, muitos ensinamentos com a história do povo Krenak. Que vocês sigam o caminho do ensinamento de forma limpa, cheia de luz e de muita paz”, finalizou.

O projeto Cineclube Debates também recebeu o indígena Ivanilson Martins Xokó para a mesa redonda que discutiu o documentário “Do Novembro Negro ao Abril Indígena: Em busca da terra sem males”. Não foi a primeira experiência online do projeto, cujos planos incluem a realização mais frequente de atividades pela rede no futuro. “Foi uma experiência muito boa, que me engrandeceu não só como pessoa, mas como acadêmica. Ter contato com a temática, com os questionamentos, é sempre importante para quebrarmos preconceitos que construímos ao longo da vida. Debates como esse são fundamentais para nossa desconstrução, para nossa formação como pessoas melhores, com senso crítico”, afirma a bolsista do projeto, Clara Rabello, estudante do terceiro ano do curso técnico em Meio Ambiente. Ela recomenda que todos participem de debates e se dediquem a buscar outros pontos de vista para alcançar tal desenvolvimento pessoal.

Outros aspectos da cultura indígena também foram abordados durante o evento, com discussões contextualizadas segundo a atualidade. O professor Sheler Martins de Souza ministrou a mesa redonda “O que a pandemia nos ensina sobre o processo de colonização, dominação e escravização e genocídio dos povos originários?”; o coordenador do Centro de Memória do campus, Fabrício Luiz Pereira, conduziu uma discussão sobre as perspectivas de ensino da história indígena no Brasil; a médica veterinária Paula Bastos falou sobre os Puris do Noroeste Fluminense do século XIX; e até a representação do indigenismo na literatura hispano-americana foi tema de debate, conduzido pela professora Anna Carolina Boldrini.

Culinária IndígenaPara deixar os participantes ansiosos por colocarem em prática as receitas da oficina sobre alimentação indígena, a professora Kátia Kawase e os técnicos de laboratório Luiz Paulo Estefanel e Wilson Amorim prepararam um belo cenário com exemplos do que seria ensinado. A oficina continuou em uma mesa redonda sobre o assunto.

A programação completa pode ser conferida no site do evento.

 

 

Realização

Organizado pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (Neabi) do IFF Bom Jesus, o evento mais uma vez contou com protagonismo dos estudantes, que estiveram envolvidos não só na oferta de atividades, mas também na criação e parte técnica da iniciativa. Os estudantes Luan Crisóstomo e Everaldo Junior, do curso superior em Engenharia da Computação, atuaram voluntariamente desde o início da produção, com a criação de vídeos, manutenção da plataforma onde o evento foi hospedado e disponibilização do conteúdo nos momentos programados. “Foi uma experiência única e divertida. Estamos muitos felizes e uma das coisas que achamos bem legal foi a chance de poder compartilhar um pouco de nosso conhecimento com nossos professores”, concordam os graduandos.

Laiza Setime Silva, do segundo ano do curso técnico de Alimentos, é bolsista do Neabi. Participando pela segunda vez do evento, dessa vez atuando também na organização, ela afirma que a proposta de oferecer a programação de maneira remota foi um estímulo para manter os estudos e o pensamento reflexivo durante a quarentena. Além disso, preparar-se para oferecer atividades deu novo significado à sua participação. “Poder levar e adquirir conhecimento, debatendo de forma saudável e levando questionamentos essenciais nesse momento realmente foi importante”, conta. 


Karina Neves, coordenadora do NeabiSegundo a coordenadora do Neabi, Karina Neves (foto), realizar o Abril Indígena por meio online foi um grande desafio. Foram muitas horas diárias dedicadas à adaptação das propostas, com a ajuda de alunos e servidores em todos os processos. “A ideia do evento foi muito audaciosa. Foi ousada. Levamos à frente à custa de muito trabalho. Tivemos a participação de alunos e servidores de outros campi do IFF, inscritos de todas as partes do Brasil, alunos, pais... foi maravilhoso. De forma virtual acolhemos a todos e promovemos o que estava dentro de nossa possibilidade. Foi muito bom”, orgulha-se.  

Inovação

Propor a realização por plataformas online, adaptando-se à realidade atual, não foi a primeira inovação do Neabi do IFF Bom Jesus. O núcleo foi o primeiro em todo IFFluminense a realizar um evento em grande escala, aberto à comunidade de modo geral, em 2013. Naquele ano, o Abril Indígena nasceu como Mostra Indígena e, desde então, segundo Karina, conta com expressiva participação do público externo. O reitor Jefferson Manhães agradeceu à equipe pela criatividade. “Obrigado em nome do IFF por serem perseverantes, educadores comprometidos com a formação dos nossos estudantes. É assim que fazemos a diferença”, incentivou.

Equipe

O Abril Indígena 2020 foi organizado pelo Neabi do Campus Bom Jesus, em parceria com o Centro de Memória, Jornal Estudantil, Cineclube Debates, Sarau do IFF, Café com Letras, Produção Audiovisual, Quartas Musicais e Espaço Cultural Luciano Bastos. Também participaram da organização os professores Anna Carolina Boldrini, Ângela Gomes, Fabrício Pereira, Kátia Kawase, Paula Bastos, Sheler Martins e Rafael Tardin.