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IFFluminense recebe profissionais de Moçambique para capacitação
Cooperação Internacional
Quase dez mil quilômetros separam os engenheiros e em breve professores Luís Feliciano Nhameleque, Xavier Araújo Costa, Nilton Eugénio Mário e Melito Julio Avalinho de Moçambique. Eles deixaram o continente africano no início de agosto para participarem, aqui no Brasil, do Programa de Formadores em Agricultura e Mecanização Agrária, projeto de cooperação técnica voltado à Reforma da Educação Profissional daquele país. Os profissionais ficarão no Brasil por cerca de quatro meses, recebendo capacitação para atuarem como docentes em escolas técnicas moçambicanas. Recebidos no IFSul de Minas Campus Machado, os 30 profissionais tiveram duas semanas de ambientação antes de se dividirem entre campi de outros Institutos Federais, como o Instituto Federal Fluminense e o Instituto Federal do Espírito Santo.
A ação é parte de um projeto piloto do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) relacionado às relações internacionais, em que o Brasil deixa de ser apenas importador de produtos educacionais do exterior, para se tornar agente de contribuição para um novo modelo de educação profissional no mundo. Segundo o reitor do Instituto Federal Fluminense, Jefferson Manhães de Azevedo, esta é uma oportunidade de compartilhar os valores, o modelo e a experiência centenária de oferta de educação profissional que tem promovido transformações no interior do Brasil, “contribuindo para fortalecer também a educação profissional em Moçambique como uma referência para essa oferta em outros países de língua portuguesa e outros países que necessitem empoderar sua população”, diz.
Intercâmbio – A alegria de estar no Brasil é notável nos quatro visitantes do Campus Bom Jesus, que contam se sentirem em casa desde o primeiro dia em solo brasileiro. Cada novo aprendizado faz crescer a ansiedade de retornar ao país de origem para praticar e compartilhar o conhecimento obtido. “A ideia é levar as tecnologias e implementarmos em nosso país. Isso será de grande valia para nós. Cada dia que passa, por onde passamos, sempre aparece aquela ideia: temos que buscar, que fazer, temos que implementar isso!”, entusiasma-se o engenheiro hidráulico, agrícola e água rural Luís Nhameleque.
Capacitação prática é o principal componente oferecido por meio do Programa, visto que o conteúdo teórico já é dominado pelos profissionais moçambicanos. Há no país equipamento e maquinário agrícola, alguns cedidos pelo governo brasileiro, mas faltam pessoas aptas para operação dos mesmos. De acordo com os professores, mudar essa realidade é estar mais perto do futuro sonhado pela nação. “Sabendo operar essas coisas poderemos ver nosso país se desenvolver, com base na agricultura. Assim, podemos ter uma economia equilibrada e esperar que possamos ‘chegar lá’, como o Brasil”, prevê Nilton Eugénio Mário. Eles reconhecem o valor da educação enquanto aliada na conquista desse sonho. O país, que ainda se reestrutura após anos de colonialismo e guerra civil, busca superar o desafio de atender o maior número possível de estudantes, oferecendo formação teórica e prática de qualidade.
Nesse sentido, a etapa do curso oferecida no Campus Bom Jesus foi preparada com vistas a atender às demandas de Moçambique. Manejo, conservação do solo e sistemas de produção são alguns dos temas abordados, priorizando as culturas de maior interesse econômico. Visitas técnicas e contato com associações de pequenos produtores é uma das atividades de maior interesse, pois possibilita um intercâmbio de informações sobre agricultura de subsistência, principal potencial da economia moçambicana. Para Melito Julio Avalinho, o cenário contemplado nas pequenas propriedades do Brasil sugere a descoberta de um novo mundo. “Em Moçambique, um agricultor familiar não consegue satisfazer suas necessidades mínimas, pode viver com menos de um dólar por dia. Mas aqui o agricultor familiar faz até 120 mil reais por ano e é esse pensamento grande, esse despertar, que estamos encontrando aqui. É um conhecimento que poderemos levar a nossos agricultores, mostrar a eles que agricultura não é só para subsistir, mas que com ela também podemos chegar a altos níveis”, planeja, sem esquecer dos futuros alunos que estarão sob sua responsabilidade.
Falando sobre a atividade produtiva em seu país, Xavier Araújo Costa explica que as variedades produzidas são semelhantes às cultivadas em solo brasileiro, sendo o milho o principal produto consumido. Hortaliças, mandioca, arroz e tabaco são outros cultivos utilizados no aumento da renda familiar. A produção animal nos campi dos Institutos Federais visitados até o momento também impressionou os visitantes, que enxergam possibilidades para a pecuária em Moçambique.
Atividade na suinocultura: castração de leitões
Luís, Xavier, Nilton e Melito permanecem no IFFluminense até o fim de outubro, partindo em seguida para o Instituto Federal do Espírito Santo, onde darão continuidade à capacitação até o retorno a Moçambique, quando a segunda parte da missão começa.