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“Nosso principal recurso de tratamento são as pessoas”, afirma médico sobre saúde mental
Adolescência
"Mais do que técnicas e remédios, o principal recurso terapêutico é gente que trate gente", completou o palestrante.
A adolescência é uma fase de grandes mudanças para quem está deixando a infância para ingressar na vida adulta. Transformações no corpo, na identidade e até nos relacionamentos interpessoais são alguns exemplos que impactam o comportamento dos adolescentes e as típicas alterações de humor e conduta podem levar pais, professores e amigos a se questionarem quanto à normalidade da situação. Como distinguir se esses fenômenos da adolescência são patológicos ou não? Esse foi assunto abordado pelo Dr. Rossano Cabral Lima, médico e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), durante a palestra “Saúde mental na adolescência: experiências de sofrimento e riscos de medicalização”, realizada na última quarta-feira, dia 12 de fevereiro, no Instituto Federal Fluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana.
“Medicalização” é o termo usado para descrever processos pelos quais fenômenos sociais ou subjetivos passam a ser considerados problemas médicos, sendo encarados como quadros patológicos e tornando-se alvo de intervenções médicas. O palestrante citou motivos que geram esse processo, destacando o papel da escola em relação ao assunto, em especial quando deixa de considerar fatores relacionais, pedagógicos e o contexto social do jovem ao avaliar as dificuldades dos estudantes. “A escola deve entender melhor o contexto em que as coisas acontecem antes de associar imediatamente a alguma patologia. Nem todo problema de saúde mental apresentado pelo jovem representa um transtorno mental. Muitas vezes uma conversa, uma atenção, pode resolver o problema”, afirmou.
Segundo o médico, o diálogo entre educação e saúde é muito importante para o bem-estar de estudantes que precisam de cuidados relacionados à saúde mental. Confira no áudio abaixo:
O evento contou com a participação de assistentes sociais de vários campi do Instituto Federal Fluminense. Renata Nascimento é servidora do Campus Itaperuna e atua na avaliação do contexto socioeconômico dos estudantes. Ela acredita que a capacitação é importante para todo o corpo técnico e docente do IFF, onde há também Núcleos de Atendimento a Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas (Napnee). “O Dr. Rossano ofereceu as bases sobre saúde mental, explicando os fatores que nos ajudam a entender o contexto do aluno, da família. Acho que todo profissional da área da educação deveria ter esse direcionamento, pois como educadores não sabemos como identificar ou mesmo agir quando um aluno tem determinado comportamento por conta de um transtorno ou não”, disse. Para ela, a capacidade de identificar quem precisa de um acompanhamento mais aproximado ou um encaminhamento para a área da saúde é muito importante para o bom atendimento ao aluno.
Lima abordou alguns transtornos mais comuns entre os adolescentes. Entre eles, o Transtorno do Deficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), transtorno de humor, depressão e suicídio. A presença de pais e profissionais da saúde e educação possibilitou uma rica troca de experiências e informações ao fim da palestra. A professora e consultora de beleza Andressa Fonseca é mãe de Pietra Fonseca, de 12 anos, que possui deficiência intelectual globalizada. Ela compartilhou os desafios enfrentados pela filha e destacou a importância do conhecimento para promover a inclusão. “O que me assusta é a falta de conhecimento e preparo para lidar com esses desafios. Precisamos estar atentos a tudo que está chegando, buscar informação, porque o que ditamos como certo para algumas crianças pode não ser aplicável a todas as outras”, disse. Falou, ainda, da relevância de uma equipe multidisciplinar que auxilie os alunos em suas particularidades. “Infelizmente nem todas as escolas oferecem essa realidade”, lamentou.
Referindo-se aos desafios que podem surgir nos ambientes escolares, o palestrante deixou uma dica para os presentes: “não se desesperem, mas não tentem resolver a situação sozinhos. Busquem parcerias. Sabemos o quanto é desgastante lidar com situações difíceis. Isso afeta a própria saúde mental do professor, então ele também precisa de parceria, de ajuda, de escuta”. Sugeriu, ainda, que haja um constante intercâmbio de informações entre profissionais da saúde e da educação de diferentes instituições no município e região, para a construção de caminhos e mecanismos que sejam eficazes para o bem-estar dos estudantes, familiares e comunidade escolar.
O evento foi realizado pelo Napnee do IFF Bom Jesus. Erika Barbosa, assistente social do campus, afirmou que os profissionais da educação precisam atualizar e enriquecer os conhecimentos sobre o tema, visto que o ambiente escolar e as relações sociais nele existentes têm grande influência na saúde mental do adolescentes.